segunda-feira, 28 de maio de 2012

Entrevista de César Carneiro sobre a GREVE.



"Os deputados governistas tem medo de mudar até uma vírgula errada de um projeto apresentado pelo executivo".

Cesar Carneiro é professor do Estado
Um dos líderes da greve dos professores, Cesar Carneiro, a pedido de nosso blog, cedeu entrevista, via rede social, e fez um balanço da greve. 

Cesar Carneiro é professor da Rede Estadual de Ensino da Bahia, Mestre em História Social pela UFBA, membro da oposição da APLB, Integrante da Intersindical e candidato a Deputado Federal mais votado pelo PSOL da Bahia em 2010. Cesar acredita que a greve dos professores é a mais forte já realizada na Bahia e que a responsabilidade dos alunos estarem sem aula é do Governador Jaques Wagner que custa a negociar com a categoria. Mais uma entrevista que vale a pena conferir.
Cesar Carneiro considera a maior greve de professores na Bahia
Em que etapa encontra-se a greve dos professores?

A primeira greve de professores que participei foi em 1986, no governo de Waldir Pires, eu era estudante do Central. 4 anos depois, em 1990, eu era presidente do Grêmio do Central e nesta condição foi convidado a participar do comando de Greve. De lá para cá, acompanhei de perto todas a Greves da categoria. Essa é a greve mais forte que tivemos até hoje. Isso é fruto por um lado do amadurecimento da categoria e de outro da ingratidão do governo Wagner para com que teve uma participação decisiva na sua campanha. A categoria conhece as contas do Estado, sabe que Wagner pode pagar os 22,22% determinados, por isso não recua, nem se intimida com as ameaças do governo, do PT e de seus aliados.

O objetivo da greve é apenas salarial?

A função maior do Estado é prestar serviços para os cidadãos, esses serviços são prestados por servidores. Quem tem uma melhor qualidade de vida, esta sem dúvida melhor preparado para prestar esses serviços, no caso dos professores isso é ainda mais forte. O objetivo central desta greve é o cumprimento da lei do PISO. Uma lei criada para valorizar o magistério como estratégia para elevar a qualidade da educação no país.

O pré-candidato do PT a prefeito de Salvador, Nelson Pelegrino, afirmou que os professor foram injustos com o Governador Wagner, afirmado que vocês receberam aumento acima da inflação durante a gestão petista?

Pelegrino ou é mentiroso ou desinformado. Primeiro porque, nós professores que estamos em greve não tivemos esse reajuste propagandeado por ele e por Wagner. Um percentual próximo disto foi dado apenas para uma pequena parte da categoria, a dos professores com formação de magistério, a maioria deles trabalham em escolas municipalizadas e não estão na Greve. Segundo, quando Pelegrino fala de injustiça ou ingratidão está olhando para o espelho. Pois foi o governo Wagner (PT, PCdoB, PSB) quem vem sendo injusto e ingrato com a categoria. O Governo Wagner já começou o primeiro mandato dizendo que na iria dar aumento para os servidores, isso foi estampado nas primeiras páginas dos jornais baianos. Somente após as mobilizações dos professores, foi anunciado um reajuste diferenciado, que na nossa categoria gerou uma enorme distorção na carreira. Iniciamos a greve e ele deu mais 1,2% para todos os servidores. De lá para cá, permaneceu a política de reajustes diferenciados, sendo que o maior percentual coube sempre a menor parte da categoria. Parece que Pelegrino não gostou de vê seu governador sendo chamado de ditador. Mas que outro governador zerou os contra cheques da categoria? Cortou o crede cesta e zerou a margem consignável para impedir que os professores pudessem tomar empréstimos consignados?

O IBGE acaba de divulgar que o magistério no Brasil é a profissão de menor remuneração entre outras de Nível Superior. Além da greve, como convencer o governo e a sociedade que Professor é uma profissão que merece ganhar bem como outras de graduação similar?

Na Bahia, Wagner deu uma grande contribuição para essa desvalorização dos professores de nível superior, nosso reajuste foi 30% abaixo dos professores de formação de nível médio. Hoje, uma colega me contava o fato ocorrido com ela. O filho dela foi estagiar em uma empresa e recebia um salário de R$640,00, se sentia explorado, foi quando o Estado lançou um edital de concurso para professor com o mesmo salário, o filho perguntou a ela se ela não tinha vergonha do salário que recebia. A Sociedade saber que os professores deveriam ser melhor remunerados. Boa parte da classe política também sabe disto, pois aprovou a lei do piso, que embora não seja a ideal, pode melhorar muito a condição da categoria. No entanto alguns governantes, como é o caso de Wagner, preferem não implementar a lei, na valorizar o magistério, porque não priorizam a educação do nosso povo. Estamos em uma situação impar. Resumidamente, temos um Eli (Lei do Piso) que manda o governante reajustar em 22,22% os salários dos professores; temos um orçamento de 29 bilhões de reais, com uma folga de quase um bilhão que pode ser usado para reajustar salários de servidores. Ai o governo não se entende sobre qual o impacto do reajuste no orçamento. Marcelo Nilo fala de cerca de 500 milhões, Wagner e Pellegrino falam de 500 milhões, Zé Neto fala de 520, Manuel Vitório (sec. de Administração) fala de 412 e Osvaldo Barreto fala de 411. Onde está a verdade? Os discursos do governo não bate com os números do site transparência Bahia. Que dados eles estão utilizando para afirmar que não tem recursos? Que a LRF vai ser extrapolada? Como está sendo aplicado o dinheiro do FUNDEB? Porque ele não abre as contas do FUNDEB e pede ajuda do Governo Federal?

Por que a maioria dos Deputados Estaduais preferiu apoiar as medidas do Governo Wagner a contribuir com os professores grevistas?

A Bahia permanece na cultura que deputado do governo tem que votar e ter fidelidade canina com o governador de plantão. Foi assim com ACM, Paulo Souto, Cesar Borges e agora com Wagner. Os deputados governistas tem medo de mudar até uma vírgula errada de um projeto apresentado pelo executivo. Agora votaram uma lei inconstitucional porque passa por cima de uma lei federal, desmoralizaram completamente aquela casa.

Para encerrar nosso bate papo, quais as perspectivas para o fim da greve?

A greve vai acabar assim que os partidos da base aliada do governo entenderem que não se acaba greve cortando salários, cred cesta e consignado. Greve se acaba negociando com os grevistas, com as reivindicações apresentadas, apresentando propostas reais e não pressionando, tentando intimidar a categoria. Estamos reivindicando a implementação da lei do piso que manda que o Governo aplique para toda a categoria um reajuste de 22,22% em cima no salário base atual e retroativo a janeiro de 2012. Sabemos que o Estado da Bahia tem condições de cumprir a lei. Sabemos que o governo não quer cumprir. Mas se ele tivesse alguma preocupação com os alunos que estão sem aulas e com as 50 mil famílias que estão sem salários, sentaria para negociar com seriedade. A greve começou por conta do governo não cumprir a lei nem o acordo feito com a categoria. Quem decidiu não cumprir o acordo foi o governo. Então ele é o responsável pela greve.



Fonte: http://marioangelobarreto.blogspot.com

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